sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Viagem dos Corpos


Viagem dos Corpos

Se um galho desfolhado
Submerso a serpentear
Desenha as águas com vento
que passaram na corrente.
Estende-se a linha do tempo
No seu ritmo eloquente...
Pois a viagem dos corpos
No mergulho existencial
traz no espelho dos olhos
a certeza de findar.

Gladis Deble

.

CRIAÇÃO



CRIAÇÃO

Vagarosa e ritmada
vem a noite, poisa leve
Suas asas sobre nós

E o tênue vento e as sombras
a rasgar o véu dos mundos
facilita novos sonhos ...

Dissolvem-se as cadeias do dia
e minha alma livre voa
para as novas coisas que cria.

Gladis Deble

.

Trem Fantasma


Trem Fantasma

Este trem de paragens remotas
Cruza pontes de aço e rios de prata,
da montanha na curva desponta.
Leva gentes e traz poesia.
No seu bojo de ferro e alento,
come lenha, engole fogo
no seu ritmo firme e frenético.
Quase sempre ignora meus rogos.
Minhas lágrimas com gosto absinto
formam poças que escorrem dos trilhos.
Passageiros aguardam na gare,
os amores de outra estação.
A saudade e a ausência é que plasma
esta máquina em viagem nas nuvens
invade meu céu como um trem fantasma.

Gladis Deble

.

ESCOLHAS


ESCOLHAS

Que saída haverá
para expandir meu olhar?
Que porta se abrirá
para acolher meu andar?

Qual surpresa reservada
vibra esperando por mim?

Só a chave saberá imbuída
em seus mistérios,
se vou ao encontro das flores
ou aguardo as borboletas.

Se a vida em seus meandros
desce estreitos corredores,
escorrega em precipícios?
Ou da janela dos ciclos,
tudo volta ao seu início?

Afasto a impressão de espanto
que ao longo dos anos trago
e as luzes projetadas na estrada
persistem a embriagar o meu sentir.

Nesta oblíqua aventura
espiral onde mergulho;
destrava a chave, o ferrolho
do cadeado encantado,
se eu acertar na escolha.

Gladis Deble

.

domingo, 25 de setembro de 2011

Esperançosa



Esperançosa

Este banco de jardim
no gélido final de inverno
ainda ve folhas soltas
a desfilar por aí ...

Eu vou como a pétala
a voar na amplidão.
Melhores dias virão.
É só aguardar o verão.

Gladis Deble 


.

Cavalos no sono


Cavalos no sono

Um estranho resfolegar
e um trotar de cavalos
bate casco no jardim...

Enquanto tento dormir
Sinto cavalos do tempo
da guerra chegar assim.

Eram potros do vizinho que haviam pulado a cerca

a esperar inquietos o desfile farroupilha.

Gladis Deble

.

Enternecida


Enternecida

Se passeio enternecida
pelos caminhos da França,
Sinto aromas de Provença
e um mundo de poesia
que há nos campos de lavanda.

Gladis Deble

.

Emblemáticas Caravelas

Emblemáticas Caravelas

Desmancha-se o horizonte
diluído na neblina ...
É tudo água salgada
a boiar no tombadilho.
Se calmaria ou tormenta,
não importa isso agora.
Minha nau a bordejar
quer passar o Bojador.

Marinheiro da rainha
ou corsário em contrabando...
Os embates acontecem
para o Novo Mundo nascer.
E infla-se a grande vela
com a força dos loucos ventos.
Se ladrão ou desertor,
degredado, escrava ou nobre
não interessa para mim...
Emblemáticas caravelas
fizeram sermos assim.

Gladis Deble

.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Meu Corpo






O Meu Corpo

O meu corpo é um braseiro
ardente como fogueira
a brilhar na lua cheia.

O meu corpo é um jardim,
viveiro de passarinho,
com borboleta e jasmin.

As vezes anda sózinho
ensimesmado e tristonho;
sou solitária andorinha ...

Se entra em cena o jardineiro,
Senhor das minhas vontades,
Salta verdes do olhar e brotação no canteiro.

Gladis Deble

.

NO BAILE







(God_of_War__by_SteveArgyle)



NO BAILE

No baile dos Paladinos
Brilham espadas, floretes.
Muitas figuras esguias
Percorrem vastos salões...
Na muralha os esqueletos
Procuram abrir passagem
Rumo a Jerusalém.
Sei que a guerra é santa
O vinho é tinto como sangue
Seu corpo encanto.
A marcha é dos infiéis
Tremeluzindo o véu
O mensageiro enviado
É o mesmo velho diabo
Que o Saladino acuado
Levou prá bailar no céu.

Gladis Deble

.

Estrangeiro


Estrangeiro



Poderoso com um penhasco,
enigmático como um bosque.
Sua figura lendária
na margem foi desnudada.
E eu vou fluida no rio,
perseguindo a liberdade.
Feito bandeira sem mácula,
incorporada à paisagem.
Um estrangeiro na tribo
entre os nativos da ilha,
ao seu clã foi restituído.
Para um império de versos
desconstruída me vou
a riscar com meus fiapos
pedaços do firmamento.

Gladis Deble
.

NUMA ILHA


NUMA ILHA


A brisa mansa que cobre,
a noite cinza que desce.
A velha casa é ruína
em marcas que a sombra tece...

Neste cenário azulado,
as montanhas remotas e as madeiras
cercam de encantos seu toque.

Revoa um bando de aves
num céu barroco a mudar,
Eu a sonhar numa ilha
com você a me beijar.

Gladis Deble

.

domingo, 18 de setembro de 2011

Lendas Urbanas


Lendas Urbanas

A História em seus porões
fecha os punhos, cala vozes.
Nas sombras guarda verdades.
A letra não traz à tona,
tudo que foi sufocado...
São fragmentos, são fatos
de um passado recente.
Os pedaços da história
que não cruzaram os portões
viraram lendas urbanas...
Estão vivos nas cabeças,
são os ecos dos poemas
sem fardas e sem grilhões.

Gladis Deble

.

Amavisse


Amavisse

A malha bordada do tempo
que faz os dias e as noites
não a podemos tocar.

Um arco-iris profundo
num céu pintado de índigo
é difícil explicar.

Se eu te perdesse, amado
num céu de esfuminho raro
continuaria te amando.

Mesmo que muito doesse
e um de nós adoecesse
seguiria nessa dança.

Se prá longe tu seguisse
e nunca mais eu te visse
Valeria o amavisse.

Gladis Deble

.

Num brechó


Num brechó

Certas leituras nos trazem
personagens mágicos e chiques.
Quando as memórias invadem
homens clássicos me seguem.
Vestem risca-de-giz, tweed,
jakard ou príncipe de gales.
Voltei cem anos nas roupas.
Entrei no túnel do tempo
ao visitar um brechó,
visitei os anos vinte...
Vi coisas da bisavó.

As cores sóbrias do frio
O aroma perfumado
da colonia a do cachimbo.

Toquei telas de chapéu
tule, pérolas, veludo...
Senti mudanças sociais
na maneira de vestir.

Desse grande revival
carregado de emoção
numa viagem nostálgica
o romantismo me pega
e na fuga prá outro tempo,
um universo lendário
povoado de mistério;
vejo roupas de alfaiate
cheias de estilo e história.

Luvas, piteira e estola
e o cavalheiro romântico
demonstra apreço à dama
ao retirar a cartola.

Gladis Deble

.

Ares Primaveris


Ares Primaveris

Nesta fase inspirativa
que vou vivendo a sorrir,
lanço dardos perfumados
penso lírios, sonho ninhos...
Ouço harpas afinadas
nos ares primaveris.

Gladis Deble

.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Memorial

 
Memorial

Minha memória é uma ilha
perdida num mar revolto...
Passa frio, troca contornos.

Quando mudar o tempo
a tomar chuva no rosto
recebo tempestade, raio e vento.

As coisas tangíveis, irão apontar
Sensíveis ao toque,
Sempre iremos lembrar.

A lira foi dedilhada,
palavras rimadas ou não,
em encaixes formatadas.

Mas a emoção do pedido
e a alegria ao responder,
Para sempre vão ficar.

Gladis Deble

.

Floresta


Floresta

As pedras que piso
entre limo,
no bucólico passeio
refazem a volta
ao passado.

A vegetação circundante
é beijada pelo vento
desde o alto do rochedo...
E o sabor dessas paragens
é como fruta do mato
colhida ao pé do arvoredo.

A água fria da fonte
caudalosa a crepitar
permeia toda a floresta,
Umidifica a esverdear;
a clorofila faz festa
na realidade do olhar.

Gladis Deble

.

Meio dia


Meio dia

Pela janela aberta
tudo vejo, debruçada.
Da floreira, em flor
desperta das hastes
a trepadeira.
E os ponteiros
empilhados da
hora do meio dia.

Sentido de impermanência
discuto esta inquietude,
Sou meu próprio solilóquio
a discordar na poesia...
Não emito nenhum som,
O sol a pleno reflete luz.
O muro não faz nenhuma sombra,
Uma lâmina de lume
penetra a vidraça, agora.
Transpaça e recorta
os objetos e louças
que estão sobre a mesa.
Brincamos de estátua
na hora do almoço.

Gladis Deble

.

Tanta Saúde


Tanta Saúde

Amar assim
Só faz bem...
Aquece o corpo e a alma,
recupera a calma.
É tanta saúde...
Tonifica o coração
Espanta o frio
Dá brilho a pele.
A circulação vai como rio.
Amiúde...
Tudo fica melhor
Você engrandecido.
Na intimidade
de um grande amor
correspondido.

Gladis Deble
.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Senha e Chave


Senha e Chave

Se não perder-me em lonjuras
seguro o silvo do vento

Jogo as amarras de dentro
seguro os braços do tempo

Sinto os eflúvios da noite
com aromas de gardênia

Feri-me na inquietude
entre as pedras onde andei

Doendo-me repartida
a embalar a distância

Embrulho sonho e silêncio
num pacote reunidos

Destravo a chave guardada
junto a senha dos amantes.

Gladis Deble

.

Trama surreal



Trama surreal



Este império móvel das varandas
Onde a luz vem beijar-te nas manhãs
é o mesmo palco ao natural
onde trocamos com a noite de papel.
E no cenário banhado de magia,
O vento traça elipses na esquina...
Meu olhar de soslaio te acompanha
No avesso do poema sol e lua
em sincronia soltam rimas
a destilar dessa trama surreal.


Gladis Deble

.

REVERBERAÇÕES


REVERBERAÇÕES

Cada um que passa
Toca a mão do outro
e apazigua o coração.
Como o sangue ordenado
corre livre nas veias
e bate ao ritmo do pulso.
Deixa pegadas na terra ...
Em ondas de luz a dançar
reverberam seus recados.
De tanto amar, os ecos
desta voz espalham-se
pelos quatro cantos do ar.

Gladis Deble

.

Poesia/Pó


Poesia/Pó

Meus sonhos são moídos
todo dia.
Feito pó na voragem...
A moagem é poesia.

Trituradas fantasias
mudam formas,
São farinhas
espalhadas pela brisa.

Se choro alguma angústia
Em torvelinho...
Sinto dó
Ajusto a pá
Conforme a mó
Se fico só
É tudo pó...

Gladis Deble

.

sábado, 3 de setembro de 2011

IMAGENS ITINERANTES


(AMRAPALI__by_archanN)

IMAGENS ITINERANTES

Imagens itinerantes
Traduzem sonhos com arte.
Num mosaico quadro a quadro
Desliza meu sentimento.
Em desalinho prossigo,
Perdida na longa estrada.
Procuro pelas pegadas
do Reino da Fantasia.

Gladis Deble

.

Velha Melodia


Velha Melodia

Era uma vez uma festa
daquelas em que o amor
Vibra conforme as orquídeas
Os sons alegres e os brindes
Tilintavam nos cristais.
Encantava meus sentidos
Junto ao grande castiçal.
Meu vestido de bolinhas
Iluminado e festivo
Era um convite a dançar
Nossa velha melodia.

Gladis Deble
.


TEXTURAS


TEXTURAS

Juntei os fios da saudade
Para tecer novo tempo
Já que os furos da ausência
Produzem frio profundo.
Os remendos desta manta
Aquecem meu coração
E mantém acesa a chama
Expulsando a solidão.
Vou aquecer corpo e alma
E vou espantar o pranto
Na textura acolhedora;
Dobraduras do acalanto.

Gladis Deble

.

AVIAMENTOS



AVIAMENTOS

As mantilhas de renda das manhãs
que silente coloca na máquina
São tecidos de musgo e algodão
que o imaginário trás de presente.

Quando não enrola a lançadeira
desliza dançante a costura,
Se consegue unidade no pano
dá corpo ao vestido a costureira.

Sai magia dos seus aviamentos
Ornamentos em roupas de fadas...
Se escapa da agulha o fio,
Mergulha na paisagem da fonte,
e com o mesmo raio do sol
costura a linha do horizonte.

Gladis Deble

.