quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Bulevar



Bulevar

Num bulevar do passado
passeia entre alamedas
duas sombras de um casal.
Ela figura risonha
a farfalhar sua saia,
desvia os passos da lama.
Ele entre beijos, galante,
oferece flor, a dama.
Depois a cena se some
evanesce entre as arcadas.
Fica somente a bailar
pela folhagem do parque,
um guarda chuva quebrado
e duas sombras do casal.

Gladis Deble

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Cálculos do amor


(ignat ignatov)


Cálculos do amor

Os cálculos do amor
nem sempre fecham
nas contas.
Nessa régua falta números
para medir os arroubos.
Na espera dos ausentes
emperra a linha do tempo,
é o teatro do absurdo,
pra quem está apaixonado.
Explicação é inútil
nessa outra matemática.
Quando invade a saudade
qualquer minúscula ausência
inaugura uma eternidade.

Gladis Deble

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Místico acordo



Místico acordo

Neste corpo perecível
habita uma alma eterna.
Alma provem das estrelas
o corpo é pó de caverna.

Semeias os frutos,
distribuindo os papéis,
Interpretamos o script,
nem sempre muito fiéis...

E num acordo místico formado
pela cortina do palco,
desnuda-se a alma aflita
exibindo a atriz que nesse corpo habita.

E gira a roda da vida
e chega a noite temida
Caducos, pós modernos,repetitivos...
Partiremos! Retornaremos nús,
novamente recém- nascidos.

Gladis Deble

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Sugestão



Sugestão

Cai uma chuva de letras
na bruma fria e espessa.
Sugere verbos a esmo
essa mistura de inverno.

Desabam seus aguaceiros,
torrentes em correria.
Transformo imagens que vejo
em punhados de poesia.

Gladis Deble

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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

SÍNTESE




SÍNTESE

Esses braços enlaçados
Junto as pernas confundidos
Já tramaram doces toques.
E os rubores dessas faces,
Abrem risos comovidos
na meiguice une os corpos.
É sarça ardente, é incendio.
Tocam fundo em surdina...
Dilaceram as comportas.
Corpo e alma num só membro
desatrelados do mundo.

Elegia à sedução
e à síntese.

Gladis Deble

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FLOR E JARRO



FLOR E JARRO

Nas pétalas da flor ,eu escondida
na tua jarra fenecia em transparência
Não percebia assim, tão distraída,
em água e solidão me embebia ...

E o talo verde que mantém a flor
que viceja ou que fenece
aos seus caprichos,
Não sabe a solidão que me arrefece

A tua jarra indiferente a meu tremor
perdida no reflexo , não vê
Calafrios de paixão que tem a flor.

Gladis Deble

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Nas águas da memória



Nas águas da memória

Um plano no âmago do vento
é travessia audaz que projetei
Longitudes e limites do desenho
no mapa das fronteiras que lavrei.

Há um túnel de ventos, temporais
latitudes apontam para as ilhas,
e o bramido que soa nesta hora,
faz um sulco nas águas da memória.

Rubro e dourado morre o dia
em pompa e circunstância mergulhado.
Em negra singeleza a noite fria
encobre o hemisfério arrebatado.

Dos quentes sonhos acordados
Alma e corpo combinados ...
Arbítrio no terreno do possível
e os olhos na lagoa mergulhados.

Gladis Deble

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Rodas da infância




Rodas da infância

Roda cores do pião,
na tarde gira...
Espirais de saudade
me assaltam...
Os giros são os elos
da corrente que põe tudo 
em constante movimento.
Pela corda os anelos
puxam links nas rodas
da infância a circular,
a memória com saudade
vem brincar.

Gladis Deble
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