domingo, 22 de janeiro de 2012

CHOVIA...


CHOVIA...

O barco perdeu-se, um tempo sumiu no redemoinho das águas,
com suas fontes, essências, chafariz, personagens e danças.
Arroios, ritos e pontes desapareceram.
A guampa esconde no cilindro do corpo um ciclo todo de lendas
contos e paisagens. O que ficou viverá sem mapa além da bruma
na memória afetiva e passará de boca em boca como folclore
popular de um povo que não tem escrita.
O poço secou...
Nossa guerreira mestiça sobrevive na urdidura de lã crua do poncho
de lã que trama invernia e geada e prepara aconchego na beira
do fogo. Rege o coral dos ventos, bruxa dançarina dos encantamentos.
Conhece os frêmitos dos tambores do mato, toca flauta de tíbia, sabe
dos ossos do ofício de poeta. A mesma que na primavera é fada
radiosa, seu sopro germina sementes e verdes talos embala, acaricia
pétala de flor, estende a mão fina em concha e bebe água com os corvos
no rio de cristal. Faz bolinho de chuva para as crianças lembrarem do
sabor do tempo que chovia aqui.
Benze tormenta ao sonhar com aguaceiros de um grande temporal.

Gladis Deble
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Peneira de Luzes


Peneira de Luzes

Pisa de leve meu sonho
de verão pelos caminhos.
Raios de sol na folhagem
Uma peneira de luzes ...
No filtro dessa miragem
Solto flechas, é fim de tarde
a ave prepara  o  ninho
eu cumpro com meu destino.
Repenso meu universo
Sou mera versejadora
rabiscadora de versos.

Gladis Deble

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SANTUÁRIO



SANTUÁRIO

Na praia banhada em luz
as areias dançarinas
conduzem nosso passeio
luminoso e aquecido.

As aves vão para o sul
Eu sei o que é bom prá mim
Somos iguais as marrecas;
destinadas aos encantos
do santuário do Taim.

Gladis Deble

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Encantamento


Encantamento

É no repouso das sombras
que o sentimento ancorado
de migalhas recompõe-se.
E a energia do sol
lança as flechas em cores.
Faz  da forma um monumento.
A moldura ao relento
sofre os efeitos da mágoa,
e embora a ação do tempo
desgaste seus movimentos.
O que ficou configurado
é a visão do encantamento.

Gladis Deble

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

JANEIRO


JANEIRO

Janeiro finalmente
desfralda sua bandeira...
Ainda permaneço enternecida
a espraiar renascimentos.
A porta entreaberta
dos meses que virão
deixa-me espiar
os barcos do tempo
e um vento incessante
transforma em poesia
tudo o que surge no horizonte.

Gladis Deble
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AR



AR

Visto túnica de renda
sempre vazada de luz
e os movimentos da brisa
pelos buracos flutuam
onde me escapas das mãos.
Como plumas provisórias
vou diluída num rio ...
Das redes inundadas
das ausências
há tanto mistério a rodar...
Sobre essa asa do vento
eu não me mostro por dentro
e toda uma doçura apetecida
derramo estendidas por um fio;
penhascos partilhados,
meus inventos ...
e um desmoronamento
a se instalar ...

Gladis Deble

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Fairy



Fairy

Balança a asa
guarda a essência
Vai intuitiva a recriar-se

Fibra diáfana
filtro de aurora
embala sonhos nos seus mistérios

Baba de moça
que tece um fio
água de mel no seu cantil

Leva no ventre
seu novo invento
É do futuro seu sonho azul.

Gladis Deble
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Cores quentes


Cores quentes

Cores quentes no crepúsculo
fazem da gruta calor ...
O sol no mar derretido
é amarelo o fulgor !
E o meu coração na praia
a pulsar na areia rosa
é uma pipa caída,
uma bóia pós moderna
feito pássaro abatido
da moldura desprendeu-se
Desafia esse signo,
meu coração quer reformas...

Gladis Deble

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ANO NOVO


ANO NOVO

Uma mão num aceno
despede o ano que parte.
O Rei morreu! Viva o Rei !

E o novo ano que nasce
é um rolo de promessas
num novelo volumoso ...

Gera um elo de esperança
sua alegria  fugaz
como bolhas de espumante

Eu olho a taça em silêncio
e a textura frágil e invasora
me bebe  misteriosamente.

Gladis Deble

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PROJETO - EPIFANIA 2012


PROJETO  - EPIFANIA 2012-

Para o novo ano preciso de alguns
ajustes no peito...
Um novo coração para minhas dores,
Um sopro de coragem na alma,
Uma energia forte contra esse tédio,
e na fórmula do remédio muita fantasia
para um homem de boa vontade
tornar real a minha epifania.

Gladis Deble

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