domingo, 22 de janeiro de 2012

CHOVIA...


CHOVIA...

O barco perdeu-se, um tempo sumiu no redemoinho das águas,
com suas fontes, essências, chafariz, personagens e danças.
Arroios, ritos e pontes desapareceram.
A guampa esconde no cilindro do corpo um ciclo todo de lendas
contos e paisagens. O que ficou viverá sem mapa além da bruma
na memória afetiva e passará de boca em boca como folclore
popular de um povo que não tem escrita.
O poço secou...
Nossa guerreira mestiça sobrevive na urdidura de lã crua do poncho
de lã que trama invernia e geada e prepara aconchego na beira
do fogo. Rege o coral dos ventos, bruxa dançarina dos encantamentos.
Conhece os frêmitos dos tambores do mato, toca flauta de tíbia, sabe
dos ossos do ofício de poeta. A mesma que na primavera é fada
radiosa, seu sopro germina sementes e verdes talos embala, acaricia
pétala de flor, estende a mão fina em concha e bebe água com os corvos
no rio de cristal. Faz bolinho de chuva para as crianças lembrarem do
sabor do tempo que chovia aqui.
Benze tormenta ao sonhar com aguaceiros de um grande temporal.

Gladis Deble
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