domingo, 6 de novembro de 2011

Biografia


Biografia

Se o espelho conservasse as imagens
Eu desfilaria sem roupas
por extensas paisagens
mas o espelho não tem memória.
Não retém o formato dos corpos,
tão pouco devolve o feedback
das histórias vividas.
Da aparência de ontem
nem a sombra,
Na dispersão dos ventos
nenhum oi.
No pequeno infinito
do espelho do meu quarto
cruzo as asas...
Ao descer a cortina
pinto a boca distraída,
Não sei porque fui esquecer
a senha desse acesso.
Só os trevos cultivados
em torno da retina
continuam a gravar
minha biografia.

Gladis Deble

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Quimera


Quimera

Gárgula que vigia a Notre Dame, híbrida criatura de pedra,
ser fantástico que habita o imaginário medieval.
Destinado a escoar chuva das calhas ou gargarejo de água
das fontes. Para mim funciona como um simbolo.
Perpétua imagem da igreja dos humanos, guardião das
esquinas palacianas, carrancudo,grotesco, assustador.

A contemplar do alto dos telhados as brumas de Paris,
as suas luzes e a cultura obscura de uma era.
A afastar as forças do mal a divindade mítica destina-se.
Se cabeça de leão, fogo da boca, assim sinaliza a ponte.

Se for querubim, xixi na fonte? Origem hebraica, esfinge alada
protege a arca da aliança...
Os sátiros bebem vinho no banquete, na costura grega
dessa trança, se romanos, os faunos vem na dança.

Vem também elementais dos quatro reinos, procuram junto
aos humanos buscar aprimoramento moral e espiritual...

Dos velhos ícones que revejo a servir aos grupos sociais,
há espécies de sementes na bandeja e ecos de textos
muito antigos que trago...

Poema que já fiz a tanto tempo, guerra perdida que
ainda travo... Referência inconsciente dos eventos.
Misturado no caldeirão da vida real,eterno conflito
dos antagonismos do alto das mitologias ao folclore local.

Carga simbólica no profundo da dobra é o tempo
que por mim nunca espera, a única bagagem
que me sobra.

Gladis Deble

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Monólogo de um Vestido





Monólogo de um Vestido

Filtrada pela cortina
a luz rendada na tela
dita modas pra vestir.
Se projetadas no espaço,
certas vestes penduradas
são poesias em roupas.
Invólucros libertados
a esperar por seu corpo...
Nos cabides levitei.

Gladis Deble

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Lendas Urbanas


Lendas Urbanas

A História em seus porões
fecha os punhos, cala vozes.
Nas sombras guarda verdades.
A letra não traz à tona,
tudo que foi sufocado...
São fragmentos, são fatos
de um passado recente.
Os pedaços da história
que não cruzaram os portões
viraram lendas urbanas...
Estão vivos nas cabeças,
são os ecos dos poemas
sem fardas e sem grilhões.

Gladis Deble

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