terça-feira, 4 de janeiro de 2011

CHOVIA...




Chovia...

O barco perdeu-se, um tempo sumiu no redemoinho das águas
com suas fontes, essências, chafariz, personagens e danças.
Arroios, rios e pontes desapareceram...
A guampa esconde no cilindro um ciclo todo de lendas,
contos e paisagens. O que ficou viverá sem mapa
além da bruma na memória afetiva e passará de
boca em boca como folclore popular de um povo
que não tem escrita.
O poço secou...
Nossa guerreira mestiça sobrevive na urdidura de lã crua
do poncho que trama invernia e geada e prepara o aconchego
a beira do fogo. Rege o coral dos ventos, bruxa dançarina dos
encantamentos. Conhece os frêmitos dos tambores do mato,
toca flauta de tíbia, sabe dos ossos do ofício de poeta.
A mesma que na primavera é fada radiosa, seu sopro
germina sementes e verdes talos embala,
acaricia pétalas de flor, estende a mão fina em concha
e bebe água com as aves no riacho de cristal.
Faz bolinho de chuva para as crianças lembrarem
do sabor do tempo que chovia por aqui.
Benze tormenta ao sonhar com o aguaceiro
de um grande temporal.
Gladis Deble
Bagé /RS


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